16 outubro, 2008

Um olhar sobre a Sublimação

























Sublimação designa certos tipos de realizações movidas por um desejo que não visa manifestamente a uma satisfação sexual, tais como a criação artística, a investigação intelectual, atividades humanitárias e culturais que são muito valorizadas pela sociedade.
Um impulso tem seu objetivo substituído por outro desprovido de caráter sexual, tornado-o mais “digno”. Ela privilegia, atua eletivamente sobre os impulsos parciais, elementos “pervertidos” da sexualidade que não conseguem integrar-se na forma definitiva da genitalidade. A atividade sexual sublimada requer, num primeiro momento, o deslocamento da libido de seu objeto e sua concentração no ego e, só então, ela vai se orientar para um novo objeto externo. Por isso mesmo, a sublimação está estreitamente ligada à dimensão narcisista do ego. O narcisismo que ressurge se desloca para o ego ideal, cheio de perfeição e valor, como o ego infantil. O ego ideal nesse momento é o alvo do amor de si mesmo.
A sublimação diz respeito à libido objetal, à idealização, ao objeto que é engrandecido e exaltado na mente do indivíduo. As exigências do ego são aumentadas pela formação de um ideal, o que é um fator poderoso para a repressão. A formação do ideal do ego não pode ser confundida com sublimação que constitui um processo que pode ser estimulado pelo ideal. O ideal do ego é o caminho para a sublimação. A pessoa pode trocar o seu narcisismo por um ideal elevado do ego sem, contudo sublimar suas pulsões. Percebemos que Freud infere que do mesmo modo que o ego se empobrece em benefício dos investimentos objetais libidinados e em favor do ideal do ego, se enriquece com as satisfações em relação ao objeto ao realizar o seu ideal. O ego, quando se afasta do narcisismo primário, procura esse estado anterior. A sublimação se desenvolve a partir da constituição do superego, como resposta a interdições e normas que impossibilitam a satisfação direta das pulsões.
A sublimação é um processo inconsciente que tem por objetivo desviar as forças da pulsão sexual e integrá-las com outras finalidades, que não sejam as da pulsão sexual. É o ato que permite ao sujeito se desfazer de sua identificação ao falo, a realização o liberta. O eu ideal se desvanece na lembrança do que terá sido.
A sublimação é uma tendência que vai recair sobre objetos que são os mais elevados, que todo ato de criação, toda questão da obra de arte são desvios da finalidade da pulsão. Todo ato de criação é um ato sublimatório porque é o aproveitamento de uma energia sexual. Não podendo se realizar, o aparelho aproveita a energia da pulsão sexual e aplica numa outra finalidade. As pulsões, por serem modificadas em suas finalidades, tornam-se um fator preventivo e de defesa contra a neurose.
O artista pinta na mesma intensidade daquela pulsão sexual que não ocorreu, é uma busca de algo que existe na lembrança. Possibilita ao autor da obra, qualquer que seja, tomar uma certa distância de algo que não mais investe o seu corpo por estar perdido. Mas é preciso reencontrar alguma coisa que ainda existe na lembrança. É preciso, então, cantar, dançar, criar para não correr o risco de se perder. A criação é necessária à existência. O homem é capaz de muita sublimação para inventar, criar e não adoecer. Todos somos obrigados a sublimar para viver.
A frustração não decide sozinha a doença ou a saúde. Enquanto o recalque da pulsão cria tensão, a sublimação oferece uma saída “normal” ao indivíduo, permitindo não somente evitar tensões desagradáveis como também possibilitando a aplicação de suas energias em caminhos não neuróticos. A sublimação, na busca de uma descarga total devido a excitações hiperintensas de várias fontes sexuais, é uma satisfação parcial que será obtida graças a outros objetos. É uma satisfação irremediavelmente parcial porque não será completa a descarga de sua tensão, essas excitações vão encontrar escoamento em caminhos construtivos.


Regina Fernandes
(Psicanalista)

Um comentário:

Anônimo disse...

O tema é complicado, mas você conseguiu fazer um texto leve e didático.
abraço
Bernardo