30 setembro, 2007



"Devia ter amado mais.
Ter chorado mais.
Ter visto o sol nascer.
Devia ter me arriscado mais,
e até errado mais.
Ter feito o que eu queria fazer.
Queria ter aceitado
as pessoas como elas são.
Cada um sabe a alegria,
e a dor que traz no coração..."

(Epitáfio - Titãs)

29 setembro, 2007



"Não há nada que esteja menos sob o nosso domínio que o coração, e,
longe de podermos comandá-lo, somos forçados a obedecer-lhe".
(Jean Jacques Rousseau)


Um pensamento tão simples, mas que encerra uma grande verdade. Pelo menos para mim. Comandar o meu coração é impossível. Às vezes entramos em conflito, outras em luta ferrenha e aí tento jubjugá-lo, domá-lo, contradizê-lo, procuro fazer com que ele não bata tão descompassadamente, seja mais civilizado, menos apaixonado. Mas é uma batalha perdida. Lutar contra o meu coração, por mais que eu tente é derrota na certa. Talvez isso também esteja no meu DNA, um outro defeito de fabricação: sempre deixo o coração falar mais alto. E quer saber? Ele nem precisa gritar muito! Sou até capaz de pensar, racionalizar, mas se o assunto está sob o seu domínio, nem adianta procurar a razão, de um jeito ou de outro vou obedecer meu coração....

Regina Fernandes

27 setembro, 2007

Elis Regina ... a música e sua voz...




















Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar, tonto de emoção,
Com sofreguidão mil venturas previ
O teu corpo é luz, sedução
Poema divino, cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria, entontece
És fascinação amor…

( F.D. Marchetti e M. de Ferandy)

Traduzir-se




















Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta:
outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente:
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem:
outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte
- que é uma questão de vida ou morte -
Será arte?

(Ferreira Gullar)

25 setembro, 2007

Há dois pecados humanos capitais dos quais todos os outros decorrem:
a impaciência e a preguiça.
Por causa da impaciência o homem foi expulso do paraíso.
Por causa de sua preguiça, não retornou a ele.”

(Franz Kafka)

24 setembro, 2007


Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. As vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
(Cecília Meireles)

23 setembro, 2007

Chegou a Primavera!




















Bem vinda a Primavera com todas as suas flores, seus perfumes, suas cores!

Está começando a Primavera, uma estação linda, talvez a mais bonita do ano. É quando as flores se abrem, o sol fica mais forte, colorem a terra e perfumam o ar. A vida fica mais alegre, parece que é hora das coisas boas chegarem, das esperanças se renovarem.

Que a partir de hoje a Primavera aconteça em cada coração, na forma de sentimento, e em cada pensamento, todo o tempo.


Regina Fernandes

22 setembro, 2007
















Se você não sabe quem foi Ray Conniff, me dá vontade de dizer que então você não viveu. Mas não vou dizer. Juro. É que ele morreu há pouco tempo, e eu me pus a pensar na minha vida musical dos anos 50 pra cá.
Comecei com ele, nos Bailes de Debutante. Love Is a Many-Splendored Thing é marco não apenas musical, mas de letra. Dançar de rosto colado ouvindo Hi-lilli, Hi-lo jamais poderá ser descrito em dígitos. Mas a minha geração encarou todas. Logo veio o Elvis Presley e todo mundo virou roqueiro. O Ray Conniff era um velho. Imagine que, logo depois, chegam os Beatles. Depois a música de protesto, a bossa nova, o tropicalismo. A gente encarou todos os movimentos com uma seriedade que não existe mais hoje. Mas no fundo, no fundo, agora chego à conclusão de que o som da minha geração foi mesmo Ray Conniff. A paz do seu som. Ele sempre foi parte integrante das nossas alegrias e, o que enobrece a sua importância, compartilhou sua música com nossos amores. Todos da minha geração dançaram ao som da sua música envolvente, de seu balanço sedutor: o rosto colado, o chega pra lá sem perder o contato das mãos para poder trazer nosso par de volta, para o nosso abraço, todos os passos sob o olhar fiscalizador da mãe dela (a futura sogra?). Ele foi o símbolo do romance, do charme, nas festinhas, nos bailes de formatura e, também, nas boates.
Sua alva figura fará falta sim, e muito.
Acho que é isso. Somos todos uns conservadores. A gente tem uns cabelos, uns tênis, mas a gente já passou dos 50. Por mais que tenhamos nos apaixonado pelos Beatles, pelos Stones, pelo Chico e Caetano, pela Janis Joplin, na hora do vamos ver, a gente ataca é mesmo de Ray Conniff.


(Mario Prata)

21 setembro, 2007

20 setembro, 2007

O amor está no ar.


O assunto é recorrente... fazer o que? Falar do filhão é sempre um prazer.
Já sei que vai ter gente de Juiz de Fora que vai dizer que é muita babação.
Mas não é que é mesmo?












Hoje pela manhã caminhando na praia encontrei uma amiga dos tempos de colégio. Há muitos anos não nos víamos, há muito não tinha noticias dela, mas seu rostinho miúdo, seus cabelos louros e aquele sorriso de criança continuam o mesmo. Ela foi logo me abraçando, um abraço cheio de emoção e saudade. Foram poucos minutos de conversa, um reencontro gostoso, que trouxe de volta os anos de nossa infância, as brincadeiras na escola, os namorados antigos, os bailes, as festas, tempos antigos que se fizeram presente num piscar de olhos. Nos despedimos com a certeza de que outro encontro seria improvável, cada uma seguiu seu caminho. Com isso, fiquei pensando que os nossos dias são feitos de chegadas, de regressos e partidas. Talvez a vida se pareça com uma antiga plataforma de trem onde as pessoas ainda usavam chapéus e capas para viajar. Tem sempre aqueles que chegam, descem para a plataforma, cheios de expectativas, ansiosos pelas novidades. Outros estão de partida, levando na mala abandonos, decepções e desamor. Alguns estão regressando, novas perspectivas ou tentando retomar as antigas, um novo recomeço, ou quem sabe uma continuação do que ficou inacabado esperando solução. Ainda tem também aqueles que esperam, parados ali, com o olhar no horizonte, ansiosos ou distantes, cansados ou impacientes.
Mas em todos os casos, em todos esses momentos, todos estão atrás da felicidade, do preenchimento dos espaços vazios, pois ela é a única coisa capaz de superar tudo e fazer a vida ter um gostinho bem mais doce.

Regina Fernandes

18 setembro, 2007














Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais do que lindas,
essas ficarão.

15 setembro, 2007

Romeu e Julieta...


Sabem por que Romeu e Julieta são ícones do amor? São falados e lembrados, atravessaram os séculos incólumes no tempo, se instalando no mundo de hoje como casal modelo de amor eterno?
Porque morreram e não tiveram tempo de passar pelas adversidades que os relacionamentos estão sujeitos pela vida afora. Senão, provavelmente Romeu estaria hoje com a Manoela e Julieta com o Ricardão. Romeu nunca traiu a Julieta numa balada com uma loira linda motivado pelo impulso do álcool. Julieta nunca ficou 5 h seguidas esperando o Romeu... ligando incessantemente para o celular dele que estava desligado. Romeu não disse para Julieta que a amava, que ela era especial e depois sumiu por semanas. Julieta não teve a oportunidade de mostrar para ele o quanto ficava insuportável na TPM. Romeu não saia sexta-feira a noite para jogar futebol com os amigos e só voltava as 6h da manhã, bêbado. Julieta não teve filhos, engordou, ficou cheia de estrias e celulite e histérica com muita coisa para fazer. Romeu não disse para Julieta que precisava de um tempo, querendo na verdade curtir a vida e que ainda era muito novo para se envolver definitivamente com alguém. Julieta não tinha um ex-namorado em quem ela sempre pensava ficando por horas distante, deixando Romeu com a pulga atrás da orelha. Romeu nunca deixou de mandar flores para Julieta no Dia dos Namorados alegando estar sem dinheiro. Julieta nunca tomou um porre fenomenal e num momento de descontrole bateu na cara do Romeu no meio de um bar lotado. Julieta nunca teve uma crise de ciúme achando que Romeu estava dando mole para uma amiga dela. Romeu não tinha uma ex-mulher que infernizava a vida da Julieta. Julieta nunca disse que estava com dor de cabeça e virou para o lado e dormiu. Romeu nunca chegou para buscar a Julieta com uma camisa xadrez horrível...
Por essas e por outras que eles morreram se amando...

( Luís Fernando Veríssimo)

14 setembro, 2007

Manhãs de sol...


Finalmente tomei vergonha e voltei a caminhar na praia todos os dias pelas manhãs. Retornei nesta segunda-feira, comprei um tênis novo e mandei brasa! Da descida do MAC até a Estrada Fróes é um bom pedaço e deve dar uns 4 km, ida e volta, o que corresponde a mais ou menos 1 hora de caminhada. De uns tempos pra cá ando muito preguiçosa, meio devagar, mas tomei a decisão e lá vou eu, odiando cada passo, mas com o firme propósito de não desistir. Tenho cumprido as metas.
Hoje na praia, observando as pessoas caminharem, umas rapidamente, outras até correndo (credo!) fiquei pensando em como está difícil para as pessoas se entenderem, se comunicarem nesse mundo massificado... Estamos nos tornando cada vez mais solitários, peças de um grande sistema, seres que passam uns pelos outros e não se vêem, não se falam, não se cumprimentam. Estamos nos tornando insensíveis, surdos, sem relações consistentes, afastados pela correria dos compromissos, do trânsito, dos celulares. Está faltando tempo para tudo, faltam conversas na calçada, gente nas janelas, crianças brincando nas ruas. Em 1962, Érico Veríssimo já apontava na sua trilogia O Tempo e o Vento, essa dificuldade de estabelecer ligações mais fortes entre as pessoas. Hoje, passado tantos anos, um novo século, e tudo ficou ainda mais difícil. As pessoas estão fechadas na sua solidão, mesmo tão próximas umas das outras.
Uma manhã tão linda, um céu azul, tudo conspirava para os olhares se encontrarem, os sorrisos se abrirem e ninguém viu nada...



13 setembro, 2007

Família: conceitos e valores


Apesar de ainda hoje suscitar muitas polêmicas, pois para uns a família é a célula sagrada da sociedade e para outros uma instituição que deve ser combatida, ainda é na família que vamos encontrar a mediação entre o indivíduo e a sociedade, e a característica de ser a formadora de nossa primeira identidade social. Ultimamente a instituição familiar tem sido o centro de atenções de estudiosos de todas as ciências sociais e suas abordagens têm sido quase sempre dirigidas para a família como sendo algo natural e imutável. Assim como Talcott Parsons que dá à família uma relevada importância e caracteriza sua função na sociedade capitalista, exemplificando a família nuclear burguesa do século XIX como modelo, Freud, apesar de suas novas descobertas sobre a função repressiva da família, também nos mostra a família burguesa como uma instituição familiar universal.
A discussão sobre as relações entre família e sociedade teve seu primeiro passo com os trabalhos de L. Morgan, a seguir, Engels, apoiando-se nas descobertas de Morgan, desenvolve a teoria de que foi na família que se iniciou o processo de divisão social do trabalho. Segundo ele, a família monogâmica surge a partir do aparecimento da propriedade privada, e uma de suas principais características seria a de garantir a transmissão da herança a filhos legítimos do homem.
Embora a família predominante em todos os seguimentos sociais seja a família monogâmica burguesa, existem padrões internos que diferenciam formas familiares diferentes dentro de uma mesma classe social, e um exemplo significativo é a classe média urbana, que apresenta grande riqueza na variação de padrões familiares.
Para que se possa entender o grupo familiar é preciso considerá-lo dentro de uma complexa trama social e histórica que o envolve. A partir daí podemos destacar as seguintes considerações: a família não é algo natural, biológico, mas sim uma instituição criada pelo homem; qualquer que seja sua forma constituiu-se em torno de uma necessidade material: a reprodução; além de sua função ligada à reprodução biológica, ela exerce também uma função ideológica – a família é formadora do cidadão; portanto, suas duas importantes funções são a econômica (produção de mão-de-obra) e a ideológica (reprodução da ideologia dominante).
A ideologia numa família é vinculada inicialmente pelos pais e pelos agentes de educação, que ensinam ver a família como algo natural e universal, e sendo assim imutável. Althusser considera a família um importante aparelho ideológico usado pelo Estado na manutenção da dominação política burguesa. Já Marcuse, nos seus estudos sobre as sociedades capitalistas mais avançadas, aponta para uma descentralização das funções da família. No entanto o que devemos destacar é a importância da atuação familiar que é vivida intensamente pelos indivíduos, agindo de maneira incisiva no exercício da subordinação ideológica, pois está presente desde o início da vida e é marcado por fortes componentes emocionais que estruturam de forma profunda a personalidade de seus membros.
As características do funcionamento interno da família são dela ser o locus da estruturação da vida psíquica e por constitui um espaço social distinto na medida em que gera e consubstancia hierarquias de idade e sexo – o funcionamento da família centra-se no binômio autoridade/amor. Apesar do modelo burguês familiar, ser o sinônimo de família atual, não podemos negar a existência de outras formas de vida familiar, muito menos impor esse padrão a todas a unidades familiares.
Atualmente novas questões vêm colocando em cheque os atuais padrões familiares, porém podemos constatar que continua a predominância da família nuclear burguesa, apesar de apresentar algumas modificações e adaptações. Uma das principais armas do conservadorismo na luta pela manutenção dos padrões tradicionais ainda é a educação desenvolvida segundo os moldes da família burguesa. A família contemporânea se parece, em muito, com a sua ancestral, várias características dos papéis de homem e mulher permaneceram os mesmos, porém atua no sentido do aprendizado diferenciado dos papéis sexuais ao tratar diferentemente filhos e filhas, a sensualidade continua ocupando papel destacado na família e ainda é vista com algo a ser controlado.
O que podemos perceber é que certas características fundamentais da família burguesa típica do século XIX continuam presentes nas famílias contemporâneas, mas essa presença se dá parcialmente, porque hoje são outras as condições históricas. Algumas mudanças já aconteceram, outras estão por acontecer, mas percebe-se ainda vigente a rígida hierarquia de sexo e idade, assim como a associação amor e autoridade.
Regina Fernandes

12 setembro, 2007

Só sei que nada sei...


Sócrates, considerado o símbolo da excelência do filósofo, um dos principais pensadores da Grécia Antiga, nasceu em Atenas, provavelmente no ano de 470 AC, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira. Seguindo os passos de Anaxágoras, um outro importante filósofo grego, começou a se interessar pelo conhecimento de si, pelos valores universais e pela essência da natureza humana. À sua volta formaram-se grupos de discípulos e amigos, entre os quais Platão e Xenofonte, que foram os responsáveis pela transmissão de seu legado, já que ele não deixou nenhum sistema filosófico acabado ou textos escritos. Segundo o seu discípulo Platão, Sócrates achava que um livro era um mestre que falava, mas não respondia e, talvez por isso, Sócrates preferisse debater os assuntos nas praças. "Ensinar o homem é cuidar da sua própria alma" - esta seria a principal tarefa a ser desempenhada por Sócrates. Passou a vida dedicando-se a interrogar os seus concidadãos, em obediência a uma voz interior (daimon). Adotava sempre o diálogo e a característica de sua doutrina filosófica era a introspecção: “conhece-te a ti mesmo” - lema que marca toda a sua vida de pensador.
A Moral é uma parte importante em sua filosofia e uma de suas características é a idéia de que o meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude, que é adquirida com a sabedoria.
Em Psicologia, Sócrates professava a espiritualidade e a imortalidade da alma, distinguia as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não definia o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.
Acusado de corromper os jovens contra a religião e as leis da cidade foi condenado por um tribunal popular a beber cicuta. Morreu numa prisão em Atenas, rodeado de amigos e discípulos.

10 setembro, 2007

Um pouquinho do divã...

"O que seria do mundo se todos fossem bem ajustados? Haveria um tédio sem fim".
(Carl G. Jung)


O século XIX marca o advento de um saber que determina e produz um desmantelamento em relação às idéias que circulavam na época sobre a questão da sexualidade humana e das “pacientes nervosas”. Inaugura então uma explicação para a HISTERIA no campo da psicanálise, a fim de livrá-la das interpretações baseadas na religião ou apenas na simulação.
No entanto, as mulheres do século XXI, jovens, ricas, inteligentes e sociáveis, ainda sofrem do mesmo desejo insatisfeito de que sofriam as histéricas de outrora. A preocupação com o corpo, a falha frente ao ideal de perfeição, faz com que se apóiem em modernas ortopedias corporais, possíveis substitutos das paralisias, contraturas, cegueiras de antigamente. Enquanto a histérica de hoje continua à procura desse ideal de perfeição, tanto corporal quanto intelectual e emotivo - sua marca patente é a insatisfação, pois a histérica não corre atrás de seu desejo, mas visa um ideal, e por isso está sempre se queixando, tecendo justificativas para continuar naquele lugar de manter o outro idealizado - seu gozo continua como sempre em busca de reconhecimento, e na sua procura excessiva e contraditória, na sua tristeza mal compreendida, ela é criticada por uns e medicada por outros.
A partir de 1900, Freud substitui a idéia de que a histeria tinha em sua origem uma representação inconsciente, pela angústia provocada por uma fantasia inconsciente. A partir daí a histeria estava relacionada à angústia de castração, quando se coloca em jogo a possibilidade de um dano narcísico bastante significativo. Desta forma surge a possibilidade para o sujeito de se encontrar frente à angústia, fator decisivo para a estruturação da neurose. Isso fala da divisão do sujeito, a histeria mostra que o sujeito não é uma unidade, ele é cindido, é divido, e a sexualidade fala desse desencontro, dessa falha do sujeito que a histérica não quer saber por causa de seu sonho de idealização. A histérica precisa ocultar sua falha, para isso ressalta todo o resto, constituindo um jogo de ocultamento/superexposição. É nessa superexposição que ela "enche os olhos", próprios e alheios, não deixando brecha para que ocorra um encontro com a tão temida e angustiante falta. Essa lógica fálica nos diz de um terror ao desamparo, forma máxima do nada. Faz-se necessária, por uma questão de sobrevivência psíquica, a crença que alguém pode ter o falo, completude, forma máxima do tudo: essa é a busca da histérica, o tudo por terror ao nada.
Ao falar da histérica e de seu desejo insatisfeito, é importante não deixar de fazer aqui uma rápida referência à ANOREXIA, que é situada no quadro geral da histeria, pois esse é um sofrimento tipicamente histérico. O desejo da anoréxica, em geral mulheres jovens, é querer que a insatisfação esteja em toda parte, que só exista insatisfação, tanto da necessidade quanto do desejo. A anorexia consiste em dizer: “... Não, não quero comer para não me satisfazer, e não quero me satisfazer para ter certeza de que meu desejo permanecerá intacto”.
Portanto, a anorexia pode ser vista como um grito contra qualquer satisfação e uma obstinada manutenção do estado geral de insatisfação. Desta forma, percebemos que para a anoréxica, o que contraria o desejo é a satisfação ao nível da necessidade, é a invasão do sexual no orgânico, é uma forma radical do sujeito afirma seu desejo de comer nada.
Finalizando, podemos afirmar que a histérica vive inevitavelmente num estado latente de insatisfação, uma insatisfação que não se restringe unicamente ao registro sexual, mas que se estende para totalidade da vida, e que geralmente isto é feito de maneira dolorosa e sofrida. No entanto, a despeito desse sofrimento, a histérica agarra-se à sua insatisfação, porque esta lhe garante a inviolabilidade fundamental de seu ser. Quando mais insatisfeita ela é, mais protegida das ameaça de um gozo que para ela pode ser um risco de desintegração e loucura.
Regina Fernandes

07 setembro, 2007

Frida Kahlo

Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, considerada a mais importante pintora mexicana, começou a pintar olhando-se num espelho que a mãe pendurou por cima da sua cama. Muitas das suas pinturas são auto-retratos: "Eu pinto-me a mim própria porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor".
Nasceu em 6 de julho de 1907, em Coyoacan no México. Militante comunista e agitadora cultural, tem uma vasta produção artística e teve uma biografia singular marcada por grandes tragédias. Quando ainda pequena, aos 6 anos de idade, contraiu poliomielite, o que a fez usar saias longas como as das indígenas mexicanas para encobrir as marcas da doença. Aos 18 anos sofreu um grave acidente de bonde, teve fraturas múltiplas e foi submetida a 35 cirurgias, ficando impossibilitada de ter filhos. Casou-se com Diego Rivera, o pintor mexicano mais importante do século XX . Socialista e 21 anos mais velho que ela, formavam o casal de artistas mais famosos e originais da época. Com um casamento conturbado pelas numerosas traições do marido, Frida também teve seus romances extraconjugais, entre eles, León Trotski, mas Diego foi sua grande obsessão.
Seus quadros são fortes nos traços e nas cores e refletem os momentos tumultuados de dor e paixão que viveu: "Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, só pintei minha própria realidade".
Em 1954, Frida Kahlo foi encontrada morta. A última anotação em seu diário permite pensar na hipótese de suicídio: “Espero alegre a minha partida - e espero não retornar nunca mais.”
Regina Fernandes

06 setembro, 2007

Death Watch: Luciano Pavarotti - Nessun Dorma

Luciano Pavarotti (1935 / 2007)


Addio a Pavarotti, un mito italiano.

"Ricordatemi come cantante d'opera

commozione in tutto il mondo".




Pavarotti nasceu na cidade de Modena, na itália, em 12 de outubro de 1935. De família humilde, filho único de um padeiro, se tornou um cantor lírico exímio, um dos principais intérpretes da obra de Donizetti, Puccini e Verdi, considerado um dos mais importantes tenores da história.
Suas primeiras experiencias com a música foi cantando no coral de sua cidade natal. Começou a ter sucesso em 1961, quando fez Rodolfo em 'La Bohème' causando uma forte impressão. Logo começou a cantar nos teatros líricos mais famosos. Não demoraria para se tornar o artista clássico mais popular de todos os tempos.
Um dos pontos altos de sua carreira foi a participação, com os tenores espanhóis José Carreras e Plácido Domingo, nos concertos "Os três tenores". Pavarotti também gravou famosos duetos com Bryan Adams, Andrea Bocelli, Céline Dion e U2, entre outros.
Como solista, costumava concluir seus espetáculos com a interpretação da ária "Nessun Dorma" da ópera Turandot, de Puccini, com a qual conseguiu grande sucesso na Inglaterra, em 1990. O CD "Essential Pavarotti" foi o primeiro de música clássica a chegar ao topo das paradas britânicas.
Pavarotti, considerado por muitos o maior cantor da sua geração, estava inconsciente e sofria de insuficiência renal.

Da elite dos teatros do mundo aos simples aficionados, o mundo da ópera chora na quinta-feira a morte de Luciano Pavarotti, elogiando especialmente a grande difusão que ele deu a essa forma artística.

Ele foi sem dúvida um dos mais importantes tenores de todos os tempos.


(Referência: Jornal do Brasil -06/09/2007)

05 setembro, 2007

Colcha de Retalhos

Hoje, uma bela manhã de sol, quase primavera, onde todos os cheiros e cores lembram alegria e amor, me lembrei de alguém. Uma pessoa que já não está mais nesse mundo, mas que adorava viver. E com esse sentimento, sabor saudade com cobertura de ternura, fiquei pensando na minha vida e nas palavras de Mario Quintana quando disse: “minha vida é uma colcha de retalhos, todos da mesma cor”.
Deve ser triste ter uma vida assim. Fiz uma retrospectiva e descobri que minha colcha de retalhos é muito colorida. Vermelho, azul, amarelo, verde esperança, branco da paz, rosa criança. Alguns pequenos paninhos são pretos, outros cinzas, tem até alguns marronzinhos, mas olhando com jeitinho ela é toda cores, flores, variadas e bonitas.
Não guardo lágrimas nem gemidos, não guardo rancores nem desamores. Quero só as boas lembranças, sensações que acalentem minha alma, e canções que digam o quanto é bom ser feliz!

03 setembro, 2007

Também acho...

Filhos são as nossas almas
desabrochadas em flores...
Mensageiros da felicidade
mandados pelo senhor!
Filhos, sonhos adorados
beijos que nascem de risos...
Sol que aquece e dá luz
e se desfaz em sorrisos!

(trechos de Florbela Espanca)


















Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem diga que nem todas, só as de verão.
Mas no fundo isso não tem muita importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.

"Sonhos de Uma noite de Verão"
(William Shakespeare)

02 setembro, 2007

Destaque da Semana




Um excelente romance de Khaled Hosseini, selecionado entre os dez melhores do ano, é uma história que fala sobre a relação entre os seres humanos, suas emoções, amizades, amores e desencontros.

Janela




















"Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

(Fernando Pessoa)