27 setembro, 2007

Traduzir-se




















Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta:
outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente:
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem:
outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte
- que é uma questão de vida ou morte -
Será arte?

(Ferreira Gullar)

3 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Olá Regina. Gostei muito do poema. Na aula de sociologia fizemos um trabalho sobre o Adorno e o Horkeimer, onde comparamos esse poema e dividimos o "eu poético" nas duas partes, veja como ficou:
-----------------------------------
UMA PARTE /OUTRA PARTE
-----------------------------------
Todo mundo /Ninguém
Multidão /Estranheza e solidão
Pesa,pondera /Delira
Almoçaejanta /Se espanta
Permanente /Se sabe de repente
É só vertigem /Linguagem
-----------------------------------

Vcê viu que surpresa a divisão final? Justa mente a parte de nós que é permanente, sociável, comum, trivial é a vertigem, enquanto a individualização, a solidão também são formas de linguagem tão peculiar quanto a primeira na nossa sociedade! Muito interessante não é?

Bom, deixe-me ir, Regina. Tenha um bom dia. Sábado eu volto a postar no meu blog, ok?
Abraço!

Unknown disse...

Excelente esse seu olhar sobre o ser humano. Chegamos então à conclusão de que o homem falante fora da linguagem não existe. Voilá!
Bjocas
Regina