23 junho, 2007

Conversa fiada...



Há poucos dias meu filho passou na minha casa depois do trabalho. De terno, bonito, cheiroso e feliz. Olhei-o bem e percebi que o meu menino cresceu, está “um homem feito”, como dizia minha avó! E com isso fiquei pensando na vida, no tempo que passou. A vida como eu conhecia acabou. Gastou. O filho criado, o marido que se foi, entes queridos que também se foram. Agora sobra-me tempo. E o que fazer desse tempo faltoso, dessa lacuna doída, desse gosto de “quero mais”? Descobri que a resposta está na pergunta. O que fazer? Quero mais, quero tudo que tenho direito!
Agora que me sobra tempo para as coisas que gosto de fazer o que mais quero é viver! Acho que estou só começando, ou, querendo começar tudo de novo! O tempo é a maior riqueza que o ser humano tem. Mas não quero nada de recuperar o tempo perdido, não quero mudar meu estilo, nem fazer cirurgia plástica, não quero freqüentar lugares como academias, discotecas, ou coisas afins. Quero administrar minha vida com calma, com qualidade, com alegria, e tirar um bom proveito da maturidade. Não aceito o estereótipo da meia idade. Não quero ser posta de lado por estar próxima da velhice, ser descartada no mercado de trabalho ou da vida amorosa. Envelhecer é um processo natural e não precisa ser doloroso. Também não quero entrar no jogo moderno de empurrar a velhice para frente, me tornar ridícula com roupas que não são a minha cara, cirurgias, maquilagem que não fazem sentido para uma mulher inteligente e sensível. Quero envelhecer em paz, sem cair nessas armadilhas da indústria do rejuvenescimento que estão por aí, prendendo as mulheres numa redoma de silicone e botox. A verdadeira maturidade traz para a mulher mais sabedoria, mais solidariedade, mais generosidade. Esse momento da vida pode ser assustador, mas pode ser usado para ótimas transformações pessoais, como mudar o corte de cabelo, modificar o guarda-roupa, viajar, passar mais tempo com os amigos, escrever um livro, fazer um curso que interesse. A lista de alternativas é extensa e reflete a diversidade de desafios assumidos pelas mulheres que optam pela felicidade. Dizem que a mulher madura é “um fruto amadurecido graças à magia da seiva e à alquimia do tempo. Seu estado de espírito revela equilíbrio e harmonia como em nenhuma outra fase da sua vida. Nada é promessa, tudo é realização”. Portanto resta-me agora com todo charme, elegância e equilíbrio, sem desvarios ou arrependimentos, me orgulhar dos anos vividos, de ser esse fruto maduro e viver intensamente a minha época da boa safra!

Regina Fernandes

14 junho, 2007

Ele é traço que marcou meu caminho e laço que me abraçou com carinho.















...Pai, pode crer eu estou bem, eu vou indo
vou tentando, vivendo e pedindo
com loucura pra você renascer.
Pai, eu não faço questão de ser tudo
só não quero e não vou ficar mudo
pra falar de amor pra você...

13 junho, 2007

Dia de Santo Antonio





















Santo Antonio nasceu em Portugal, Lisboa, no ano de 1195, com o nome de Fernando Bulhões Y Taveira de Azevedo, vindo a falecer no dia 13 de junho de 1231, aos 36 anos de idade. Conhecido carinhosamente como Santo dos Namorados, Santo Casamenteiro, encontra-se entre os santos mais comemorados pelos devotos no Brasil, e é um dos que possui mais simpatias evocando seu nome. Supertição ou não, para os que estão sozinhos, vale a pena tentar! Quem sabe?!?!

12 junho, 2007

Dia dos Namorados


Para início de conversa a vida fica muito mais gostosa quando é cheinha de amor. Pode ser amor pelo namorado, namorante, marido, amigos, filhos, família, pelo trabalho, não importa... a ordem é estar amando, a ordem é se apaixonar. Por isso ame muito, o tempo inteiro. Não tenha medo de expor seus sentimentos, de dedicar seu tempo às coisas boas da vida, de cercar-se daqueles de quem gosta. Não há nada mais especial do que amar. Então ame muito, o tempo inteiro e se ame também, porque é muito bom estar com a auto-estima em dia, se sentir capaz de se enxergar com bons olhos, de se sentir capaz de conquistar tudo e todos.
É indispensável amar, portanto, nesse dia do namorados e em todos os dias de sua vida adote uma postura de autoconfiança, ignore os obstáculos e os desejos inatingíveis, pratique o verbo amar, seja feliz e bola pra frente!

11 junho, 2007

Conversa sobre o Autismo


A subjetivação do homem se faz necessária a fim de que este se constitua em sua humanidade. Através da linguagem a subjetivação vai se fazer presente no sujeito. Não é possível restringir a linguagem a um ato mecânico ou isolado de falar, e sim o que proporciona ao sujeito a capacidade de ser desejante, realizar atos simbólicos, apossar-se de sua história. Por meio da linguagem o sujeito é remetido à cultura.
É notório nos casos de autismos a recusa ao olhar e ao ouvir. O lugar no universo simbólico não é preenchido dando margem à alienação e separação. As primeiras estruturações do aparato psíquico são afetadas causando transtornos nos autistas, isto é, no momento em que se daria a entrada da criança na linguagem, há um rompimento. Quando há incapacidade de olhar, de perceber o que é desejado, sonhado, denota a falha na estruturação psíquica do sujeito. A criança vira-se de “costas” por não se ver refletida na imagem idealizada e sonhada, sendo assim, estando presente a rigidez. Ao tomar esta conduta como solução, tenta poupar o Outro deste olhar que ele não consegue ter. Apagando a demanda do Outro, acaba por anular-se, como se não existisse.
A palavra autismo deriva-se do grego “autos” que significa “uno mismo”. O termo adquiriu vários sentidos conforme sua utilização para nomear uma patologia precoce ou um estado secundário ao desencadeamento da doença. O autismo foi conceituado como uma doença da linha das psicoses, que além do isolamento, é revestido também pela capacidade inata de não estabelecer contato, apresenta alteração de linguagem representada pela ausência de capacidade comunicativa, rituais de tipo obsessivo, com tendência a mesmice e movimentos estereotipados.
O autismo, ao lado da psicose e da perversão, constitui um dos grandes desafios do mundo contemporâneo. Há um grande fascínio que as pessoas ditas autistas exercem sobre nós, uma vez que elas condensam o que se chama mais de mal estar contemporâneo do que um avatar psicológico. Esse fascínio no imaginário contemporâneo, deve-se sobretudo ao funcionamento mental de nossa cultura, de nosso tempo, onde a criança só conta consigo mesma face ao terror que representa o encontro com o outro, um verdadeiro estranho. O mundo de hoje é individualista e sem semelhantes. Daí surgir um questionamento: será que o mundo que projetamos para o futuro não é exatamente o mundo autista de singularidade, sem objetos e sem relações? Mundo que existe um rosto sem expressão, sem afeto e congelado. Esta patologia vem nos mostrar que estamos em face do extremo, nos limites do humano.

Regina Fernandes
Psicanalista

07 junho, 2007

Palavras ao Vento



Existe um ditado popular bastante antigo que diz: “de médico e de louco todos nós temos um pouco”. E é a mais pura verdade. Não existe aquele que nunca recomendou um remedinho, diagnosticou os sintomas de um amigo ou parente, explicou a gravidade de uma doença como se fosse uma autoridade no assunto, isso sem falar na famigerada automedicação que traz ao ser humano um enorme risco de perder a vida.
No caso da loucura então tudo piora! Podemos dizer que existem dois tipos de loucura. Em primeiro lugar temos o “louco de carteirinha”, aquele no sentido mais duro da palavra quando nos referimos aos esquizofrênicos, paranóicos, toda essa gama de problemas mentais que enchem os manicômios e as salas de psiquiatria e que são sempre excluídos da sociedade. A imagem de uma pessoa louca é uma das mais fixadas no imaginário coletivo. É sempre de alguém descontrolado, agressivo. Infelizmente uma imagem totalmente estereotipada.
Em segundo lugar, temos o “louco beleza” que somos todos nós, pessoas “normais”, com seus desvios comportamentais tais como esquisitices, manias, fobias, neuroses, medos, etc, que andam por aí, quase tristes, quase felizes, com encantos e desencantos, buscando pela felicidade sonhada, andando por um caminho cheio de pedras, cheio de flores, fazendo da vida uma estranha festa, sabendo que nada é para sempre, com a única certeza de que se parar, se desistir, perde a magia.
Portanto somos assim todos iguais, cada um com sua loucura, simples seres humanos, sem asa, mas que voam através da alma rompendo as trevas, a solidão, a tristeza, sempre em busca do arco-íris, da luz, da esperança.

Regina Fernandes
Psicanalista

06 junho, 2007

Viva a Vó Lia da Folia!


Já chegando o entardecer,
Eis que grata surpresa.
Uma vida pequenina
Pedaços de um viver.
Parece que foi tirado o molde
De um velho retrato.
Contornos iguais,
Diferenças sutis.
Da infância, volta a festa,
Folguedos, felicidade!
Se finita é a existência,
Não importa.
De agora será medida,
Por sorrisos e abraços,
Palavras a balbuciar.
Instantes furtados àqueles que um dia,
Já distante, foram nossos.
Se pais agora, não liguem.
Deixem que este afeto,
Por tempo adormecido, renasça
Em sentimento maior.
Assim somos nós: os avós.
(autor desconhecido)

Reflexões sobre Don Juan e o "ficar com..."


















É imensa a dificuldade da minha geração em compreender a lógica dos novos tempos, pois para nós os termos ficar e sair são antagônicos, entretanto atualmente têm exatamente o mesmo significado. Ficar com, ou sair com, significam a mesma coisa. São termos usados para designar a atitude de se relacionar sexualmente, sem nenhum compromisso de continuidade.
Essa nova modalidade de se expressar me reporta ao personagem Don Juan, do filme Don Juan de Marco, com Marlon Brando e Jonny Depp, escrito e dirigido por Jeremy Leven. Don Juan é um personagem literário, paradigma do eterno sedutor, tido como símbolo da libertinagem. A figura de Don Juan além dos romances foi também cultuada na música, em obras de Strauss e Mozart, este último com a ópera Don Giovanni, composta em 1787. Aparece ainda na obra de Molière, em Le Festin de Pierre, no poema satírico de Byron chamado simplesmente Don Juan, no drama de Bernard Shaw, chamado Man and Superman.
Podemos dizer que Don Juan assinala um padrão de personalidade caracterizado por uma pessoa narcísica, inescrupulosa, enamorada, amada e odiada, para quem vale tudo na conquista de uma mulher. Foucault enfatiza essa questão ao dizer que Don Juan arrebenta com as duas grandes regras da civilização ocidental, a lei da aliança e a lei do desejo fiel.
E qual seria a ligação entre o filme e a conduta social nos tempos modernos?
Poderíamos dizer que a característica principal seria uma forte compulsão para a sedução que reflete uma estrutura social e um comportamento específico. Don Juan se apresenta com uma personalidade que necessita seduzir o tempo todo, que aparentemente se enamora da pessoa difícil, mas uma vez conquistada, a abandona. As pessoas com esse traço não conseguem ficar apegados a uma pessoa determinada, partindo logo em busca de novas conquistas. O “ficar com” caracteriza também um relacionamento compulsivo para a sedução, que não implica obrigatoriamente em nenhuma combinação ou contrato prévio, que é fugaz devido à provisoriedade da união. Não há compromisso de continuidade porque, ao menor sinal de interesse de um dos envolvidos no sentido de continuar, a relação se desfaz e é evitada. Nessa nova modalidade de relacionamento não há envolvimento amoroso, não há cobrança de compromisso.
A diferença marcante entre os dois comportamentos pode ser entendida pela palavra conquista. Com Don Juan vemos a figura do “príncipe encantado”, o homem sedutor que vem arrebatar sua amada com promessas de amor eterno. Ele tem habilidade em perceber rapidamente os gostos e franquezas de suas vítimas e, é igualmente rápido em atender as mais diversas expectativas. Já o “ficar com..." não implica numa verdadeira conquista, pois é apenas uma afinidade recíproca, um não conquista o outro porque ambos estão, decididamente, com o mesmo objetivo em mente. “Ficar com” implica em essência e caracteristicamente, na ausência de sentimentos mais profundos de ambas as partes.


Regina Fernandes
Psicanalista