17 maio, 2009














O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


(Fernando Pessoa- Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914)

2 comentários:

Victor Gil disse...

Oi querida amiga.
Tenho andado um pouco fugido mas não esquecido.

"Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."

Fernando Pessoa travestido de Alberto Caeiro, só mesmo ele.

Vai atrasado, mas vai com sentido verdadeiro. Um beijo para a sua mãe, que é linda. Deve ser mais ou menos da idade da minha, 87 anos. Aqui o Dia da Mãe, foi no 1.º Domingo de Maio, aí é uma semana mais tarde.
Tudo de bom para toda a sua família.
Muitos beijos para você.
victor Gil

Márcia(clarinha) disse...

Querida flor,
voltando aos poucos [se o pc deixar,rss]
Entro e encontro um pedaço de Pessoa na sua mais bela arte, obrigada.

lindos sejam seus dias
beijos