02 junho, 2008
Graciliano Ramos
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
(Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948)
Graciliano Ramos de Oliveira ( 1892/1953), um dos maiores romancistas brasileiros, nasceu em Alagoas, foi escritor, romancista, cronista, jornalista e memorialista. Seu estilo se destaca pela capacidade de síntese, elegância e elaboração. Seus livros "Vidas secas" e "Memórias do Cárcere" foram adaptados para o cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1963 e 1983, respectivamente. O filme "Vidas Secas" obteve os prêmios "Catholique International du Cinema" e "Ciudad de Valladolid" (Espanha).
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