12 novembro, 2008

Depressão e Adolescência














A depressão tem sido registrada desde a Antigüidade e descrições do que, agora chamamos de transtornos do humor podem ser encontrados em muitos textos antigos. Encontramos referências da síndrome depressiva desde a história do Rei Saul, no antigo testamento passando por médicos no século VI, até que em 1889, Emil Kraepelin, elaborando sobre os conhecimentos de psiquiatras franceses e alemães anteriores, descreveu um transtorno bipolar (psicose maníaco depressiva) que continha a maioria dos critérios usados atualmente pelos psiquiatras e psicólogos, para o estabelecimento do quadro clínico da Depressão.
A palavra "Depressão" refere-se tanto a síndrome clínica quanto ao estado afetivo (tristeza, melancolia) relacionado a mesma. A síndrome clínica caracteriza-se por sensação de impotência, incapacidade de buscar satisfação no meio ambiente e busca de isolamento em relação a esse meio, a qual pode se dar por uma redução ou ampliação de movimentos. É um dos distúrbios mentais mais freqüentes nos dias de hoje. De 4 a 24 % da população vive a "Depressão", sendo que as mulheres apresentam-na duas vezes mais do que os homens.
Não se estabelece uma relação de classe social, nível cultural ou profissional e qualquer pessoa das diferentes classes sociais, com qualquer nível cultural ou profissional pode viver este quadro. O indivíduo pode vivenciar a "Depressão" em qualquer idade, porém a faixa de alta probabilidade de ocorrência se encontra nas mulheres entre os 35 e 45 anos (voltando a aumentar aos 55 anos). Para os homens a probabilidade aumenta com a idade.
Atualmente a depressão na adolescência é percebida como freqüente e sua sintomatologia é geralmente semelhante à do adulto, entretanto ela aparece como uma via final comum, integrando fatores sociais, familiares, psicológicos e biológicos. As abordagens psicanalistas e cognitvas-comportamentais, dentre outras, contribuíram para a compreensão de suas interações e de seus papéis. A gravidade deste quadro clínico demanda um diagnóstico e tratamentos adequados. Às vezes a depressão pode passar despercebida e isto acontece freqüentemente, sendo que este desconhecimento pode estar ligado, em sua maioria, às atitudes do adolescente, que não pede ajuda diretamente.
Para melhor compreensão do que é a depressão na adolescência, é importante colocar, de maneira geral, o seu histórico. No início do século XIX, Pinel considerou a melancolia como “muito comum na juventude”, e nela viu a principal causa das emoções da puberdade. A Segunda etapa surge com a psicanálise, que deslocou a atenção dos sintomas manifestos para os conflitos intrapisíquicos que os determinam.
A partir desta concepção, criou-se o “ mito da crise da adolescência”, que passou a ser considerada habitualmente passageira e espontaneamente resolutiva. Um terceiro momento surge no final da década de 60, quando, através de estudos, percebeu-se que as perturbações psicopatológicas dos adolescentes, não desapareciam espontaneamente, mas sim progrediam para uma patologia do adulto. E, mais recentemente, a psicanálise passou a insistir, mudando seu antigo ponto de vista, sobre a gravidade de certas manifestações psicopatológicas da adolescência, antes banalizada, e atualmente reconhecidas como reveladoras de uma ameaça de desvio ou de parada definitiva, como tentativas de suicídio.
Estudos clínicos e pesquisas, ainda insuficientes e contraditórias têm mostrado cada vez mais que a depressão do adolescente está associada com certos fatores familiares, sociais ou biológicos, e que a ela associa-se, freqüentemente à dos pais, em famílias submetidas a agressões externas e internas ligadas à desestruturação ou à discórdia.
As teorias e modelos atuais sobre a depressão na adolescência apoiam-se na transposição para o adolescente de estudos realizados no adulto.
Sob o ponto de vista da psicanálise a problemática depressiva se deve a uma perda do objeto de amor ou daquilo que é sentido como tal, ou ainda a uma baixa estima de si. A puberdade representa a perda da segurança e da perfeição narcísica ligada ao corpo infantil e à relação de dependência com os objetos edipianos que ela autoriza. Os sentimentos de perda inerentes à adolescência, a agressividade contra os pais, revelam angústia da posição depressiva enquanto insuficientemente elaborada. A confusão da fantasia e da realidade, fatos dolorosos que atingem a família, ameaças de separações, brigas ou divórcios, fracasso de uma relação amorosa ou nos estudos, são fatores desencadeantes de uma crise ansiosa, depressiva ou suicida.
No que se refere ao ponto de vista sociológico, vemos que enquanto condição sócio- cultural, a adolescência é determinada pelas mudanças da sociedade, da família e dos valores dos adultos. A incapacidade da sociedade atual em oferecer valores e esperanças de status ao adolescente, as dificuldades escolares, a elevada falta de perspectiva em obter um diploma e mais tarde um emprego, a carência de confiança em seus próprios valores, a estimulação precoce da sexualidade e da agressividade, trazem uma série de conflitos ao adolescente e são considerados elementos que contribuem de maneira incisiva para os determinismos da depressão no adolescente.
Podemos então concluir que a depressão compromete e degrada a adaptação social e familiar, escolar e profissional do adolescente; que os comportamentos depressivos podem induzir atitudes de incompreensão, rejeição e hostilidade do meio, para com o adolescente, atitudes estas que reforçam sua visão negativa de si mesmo e dos outros ( professores e pais vêem o adolescente deprimidos como preguiçoso, irresponsável, imaturo e insubordinado) ; que a depressão altera negativamente o desenvolvimento social do adolescente, pois ele tende a se isolar ou a ser rejeitado por seu grupo de amigos, o que o torna vulnerável às sugestões negativas do grupo ( uso de drogas, álcool, etc ); e finalmente, que a depressão no adolescente suscita reações familiares que podem agravá-la, pois os pais podem experimentar uma hostilidade em relação ao filho depressivo, que os frustra da esperança de satisfazer as exigências do ideal do EU e da própria adolescência, dessa forma esse comportamento familiar funciona como uma “ força fantasma ” que o adolescente internaliza como um fardo suplementar, aumentando sua dor moral e seu sentimento de abandono, reforçando desta maneira o comportamento depressivo.


Regina Fernandes
Psicanalista

Um comentário:

Anônimo disse...

A depressão na adolescência está aumentando muito. Ótima lembrança.
Bjs
Teresa Cristina