31 maio, 2008

A Construção da Adolescência














Segundo Contardo Calligaris, a adolescência é um fenômeno novo, promovido pela modernidade, instituído pela cultura, onde “o sujeito se torna capaz, instruído e treinado (pelos pais, pela escola, pela mídia) para adotar os ideais da comunidade, mas não é reconhecido como adulto”. Esta mesma modernidade lhe instaura uma moratória, a partir do ideal da liberdade, mas onde o sujeito só será reconhecido como adulto e responsável, na medida em que viver e se afirmar como independente e autônomo. A moratória é um tempo de transição com duração indefinida, promovendo assim, um hiato entre a adolescência e o ingresso na vida adulta. Essa indefinida moratória moderna faz com que o adolescente, apesar de instigado pela educação moderna que o incita a se tornar um indivíduo independente, seja excluído da vida adulta e colocado no limbo onde, não existe para ele um olhar que reconheça sua imagem como sendo a figura de um outro adulto, seu par.
Já Stuart Hall nos aponta que na modernidade estão surgindo novas identidades - híbridas – e que o complexo processo de globalização implica numa multiplicidade de estilos e de identificações. Nos dias de hoje existe um sujeito diferente que não tem mais a certeza da razão cartesiana, como na época da Modernidade, pois hoje a lógica é freudiana – há sempre algo que escapa, que foge à regra, que foge à razão – o sujeito, no entanto, tem que reagir aos mesmos paradigmas de antes, havendo assim a necessidade de novas identidades.
O adolescente alcança sua identidade ocupacional na medida em que suas identificações introjetivas se integram e perdem o caráter defensivo e protetor original. Quando o adolescente, na busca de orientação para sua problemática vocacional, recorre a um psicólogo de Orientação Vocacional, ele atravessa conflitos que segundo Stuart Hall, são agravados em função do declínio das identidades nacionais e do surgimento, em seu lugar, de novas identidades num mundo globalizado.
Rodolfo Bohoslavsky nos apresenta então, uma proposta, sustentada em hipóteses esboçadas a partir da dimensão do campo de atividade dos cientistas sociais, que privilegiam a estruturação de um campo de abordagem clínica que coloca em relevo o que o indivíduo sente na sua relação com o trabalho, oportunizando a redescoberta de valores e sentimentos. Ele direciona o enfoque operativo clínico em OV para uma unidade de atuação, onde reflexão e ação estão articuladas de modo que o pensar e o agir integram-se, situando a tarefa de OV numa dimensão ética relacionada com uma concepção de homem, onde a escolha do futuro é algo que lhe pertence.
Bohoslavsky possibilita ao adolescente construir, através do processo de trabalho em Orientação Vocacional, um grau de autonomia e informação, necessários ao aprendizado de padrões de comportamento eficazes para enfrentar futuras mudanças e elaborar os conflitos e ansiedades que possa experimentar em relação ao seu futuro, posicionando-se de forma ativa na sua escolha profissional.

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