12 junho, 2008

Dia dos Namorados



"Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino - o amor."

Carlos Drummond de Andrade

11 junho, 2008

O segredo da vida de um casal




Gosto dos textos de Contardo Calligaris, excelente psicanalista e psicoterapeuta é italiano e mora no Brasil. O texto abaixo fala sobre relacionamentos e acredito que vale a pena fazer uma leitura reflexiva.





O segredo da vida de um casal


Receita do amor que dura: amar o outro não apesar de sua diferença, mas por ele ser diferente.
Em geral , na literatura, no cinema e nas nossa fantasias, as histórias de amor acabam quando os amantes se juntam (é o modelo Cinderela) ou, então, quando a união esbarra num obstáculo intransponível (é o modelo Romeu e Julieta). No modelo Cinderela, o narrador nos deixa sonhando com um “viveram felizes para sempre”, que seria a “óbvia” conseqüência da paixão. No modelo Romeu e Julieta, a felicidade que os amantes teriam conhecido, se tivessem podido se juntar, é uma hipótese indiscutível. O destino adverso que separou os amantes (ou os juntou na morte) perderia seu valor trágico se perguntássemos: será que Romeu e Julieta continuariam se amando com afinco se, um dia, conseguissem deitar-se juntos sem que Romeu tivesse que escalar a casa de Julieta até o famoso balcão? Ou se, em vez de enfrentar a oposição letal de suas ascendências, eles passassem os domingos em espantosos churrascos de família?
Talvez as histórias de amor que acabam mal nos fascinem porque, nelas, a dificuldade do amor se apresenta disfarçada. A luta trágica contra o mundo que se opõe à felicidade dos amantes pode ser uma metáfora gloriosa da dificuldade, tragicômica e inglória, da vida conjugal. O casal que dura no tempo, em regra, não é tema para uma história de amor, mas para farsa ou vaudeville -às vezes, para conto de terror, à la “Dormindo com o Inimigo”.
Durante décadas, Calvin Trillin escreveu uma narrativa de sua vida de casal, na revista “New Yorker” e em alguns livros (por exemplo, “Travels with Alice”, viajando com Alice, de 1989, e “Alice, Let’s Eat”, Alice, vamos para a mesa, de 1978). Nesses escritos, que são só uma parte de sua produção, Trillin compunha com sua mulher, Alice, uma dobradinha humorística, em que Calvin era o avoado, o feio e o desajeitado, e Alice encarnava, ao mesmo tempo, a beleza, a graça e a sabedoria concreta de vida.
À primeira vista, isso confirma a regra: a vida de casal é um tema cômico. Mas as crônicas de Trillin eram delicadas e tocantes: engraçadas, mas nunca grotescas. Trillin não zombava da dificuldade da vida de casal: ele nos divertia celebrando a alegria do casamento. Qual era seu segredo? Pois bem, Alice, com quem Trillin se casou em 1965, morreu em 2001.
Trillin escreveu “Sobre Alice”, que acaba de ser publicado pela Globo. Esse pequeno e tocante texto de despedida desvenda o segredo de um amor e de uma convivência felizes, que duraram 35 anos. O segredo é o seguinte: Calvin e Alice, as personagens das crônicas, não eram artifícios literários, eram os próprios. A oposição entre os dois foi, efetivamente, o jeito especial que eles inventaram para conviver e prolongar o amor na convivência.
Considere esta citação de um texto anterior, que aparece no começo de “Sobre Alice”: “Minha mulher, Alice, tem a estranha propensão de limitar nossa família a três refeições por dia”. A graça está no fato de que a “propensão” de Alice não é extravagante, mas é contemplada por Calvin como se fosse um hábito exótico.
Alice é situada e mantida numa alteridade rigorosa, em que é impossível distinguir qualidades e defeitos: Calvin a ama e admira como a gente contempla, fascinado, uma espécie desconhecida num documentário do Discovery Channel. Se amo e admiro o outro por ele ser diferente de mim (e não apesar de ele ser diferente de mim), não posso considerar que minha maneira de ser seja a única certa. Se Calvin acha extraordinário que Alice acredite na virtude de três refeições diárias, ele pode continuar petiscando o dia todo, mas seu hábito lhe parecerá, no fundo, tão estranho quanto o de Alice.
Com isso, Calvin e Alice transformaram sua vida de casal numa aventura fascinante: a aventura de sempre descobrir o outro, cuja diferença inesperada nos dá, de brinde, a certeza de que nossa obstinada maneira de ser, nossos jeitos e nossa neurose não precisam ser uma norma universal, nem mesmo a norma do casal. Há quem diga que o parceiro ideal é aquele que nos faz rir. Trillin completou a fórmula: Alice era quem conseguia fazê-lo rir dele mesmo. Com isso, ele descobriu a receita do amor que dura.

10 junho, 2008

Mãe desnecessária


Se eu fiz o meu trabalho direito,
tenho que me tornar desnecessária.
... porque o Amor é um processo de libertação permanente."















A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.
Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase e ela sempre me soou estranha.
Até agora. Agora que minha filha adolescente, quase aos 18 anos, começa a dar vôos solo.
Chegou a hora de reprimir de vez o instinto materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos erros, tristezas e perigos.
Uma batalha interna hercúlea, confesso.
Quando começo a esmorecer na luta para controlar a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o que significa isso.
Ser "desnecessária" é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.
A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda e um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida.
Até o dia que os nossos filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser desnecessários, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.

Recebi este texto por e-mail de minha amiga Sonia Maria Jannuzzi Sogawa (Maat) - a autoria é de Marcia Neder.

09 junho, 2008













Neste final de semana encontrei amigos queridos e entre eles estava um francês que me perguntou o significado da palavra saudade. Disse a ele que os brasileiros têm no coração esse sentimento trazido pelos portugueses de além-mar e que fala da falta, da falta das coisas que você ama muito e que está ausente. Não é o mesmo que dizer “sinto falta disso”, ou “sinto falta de você”. É algo mais nostálgico, pode ser triste e feliz ao mesmo tempo. Triste por ter passado e feliz por ter sido vivido. Saudade é um sentimento que mata o coração da gente.

Segundo o Aurélio é: substantivo feminino – lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, das pessoas ou de coisas distantes ou extintas, acompanhadas do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; nostalgia.

Segundo Guimarães Rosa:

Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!
Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas ...
E a te expressar que este amor em nós ungido
Suportará toda distância sem problemas ...

Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.
Lembrar-te-ás toda a ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos ...
Nem a distância apaga a chama da paixão.


Segundo Pablo Neruda:

"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade,
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido..."

03 junho, 2008

Emily Jane Brontë


"Doce amor da juventude, me perdoa, porque as correntezas de paixões me carregam de um lado para o outro. Neste momento, eu devo me entregar, sem tentar entender o que acontece em meu coração. Mas quando essas correntezas enfraquecerem, este doce amor irá permanecer. E mesmo que tudo acabe, basta que o amor sobreviva _ e eu sobreviverei também. Entretanto, se tudo permanecer, menos o amor _ o Universo passará a ser um estranho para mim. O amor muda como as folhas das árvores no outono. E se eu for capaz de entender isto, serei capaz de amar..."
(Trecho do livro "O morro dos Ventos Uivantes", de Emile Brontë).


Emily Jane Brontë (1818/1848), escritora e poetisa inglesa é a autora do livro "O Morro dos Ventos Uivantes", uma história de amor, cruel e apaixonante, passada na Inglaterra do século XVIII e que narra a violenta paixão entre Catherine Earnshaw e o cigano Heathcliff, seu irmão adotivo.

02 junho, 2008

Graciliano Ramos



"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

(Graciliano Ramos, em entrevista concedida em 1948)


Graciliano Ramos de Oliveira ( 1892/1953), um dos maiores romancistas brasileiros, nasceu em Alagoas, foi escritor, romancista, cronista, jornalista e memorialista. Seu estilo se destaca pela capacidade de síntese, elegância e elaboração. Seus livros "Vidas secas" e "Memórias do Cárcere" foram adaptados para o cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1963 e 1983, respectivamente. O filme "Vidas Secas" obteve os prêmios "Catholique International du Cinema" e "Ciudad de Valladolid" (Espanha).

01 junho, 2008