11 junho, 2007

Conversa sobre o Autismo


A subjetivação do homem se faz necessária a fim de que este se constitua em sua humanidade. Através da linguagem a subjetivação vai se fazer presente no sujeito. Não é possível restringir a linguagem a um ato mecânico ou isolado de falar, e sim o que proporciona ao sujeito a capacidade de ser desejante, realizar atos simbólicos, apossar-se de sua história. Por meio da linguagem o sujeito é remetido à cultura.
É notório nos casos de autismos a recusa ao olhar e ao ouvir. O lugar no universo simbólico não é preenchido dando margem à alienação e separação. As primeiras estruturações do aparato psíquico são afetadas causando transtornos nos autistas, isto é, no momento em que se daria a entrada da criança na linguagem, há um rompimento. Quando há incapacidade de olhar, de perceber o que é desejado, sonhado, denota a falha na estruturação psíquica do sujeito. A criança vira-se de “costas” por não se ver refletida na imagem idealizada e sonhada, sendo assim, estando presente a rigidez. Ao tomar esta conduta como solução, tenta poupar o Outro deste olhar que ele não consegue ter. Apagando a demanda do Outro, acaba por anular-se, como se não existisse.
A palavra autismo deriva-se do grego “autos” que significa “uno mismo”. O termo adquiriu vários sentidos conforme sua utilização para nomear uma patologia precoce ou um estado secundário ao desencadeamento da doença. O autismo foi conceituado como uma doença da linha das psicoses, que além do isolamento, é revestido também pela capacidade inata de não estabelecer contato, apresenta alteração de linguagem representada pela ausência de capacidade comunicativa, rituais de tipo obsessivo, com tendência a mesmice e movimentos estereotipados.
O autismo, ao lado da psicose e da perversão, constitui um dos grandes desafios do mundo contemporâneo. Há um grande fascínio que as pessoas ditas autistas exercem sobre nós, uma vez que elas condensam o que se chama mais de mal estar contemporâneo do que um avatar psicológico. Esse fascínio no imaginário contemporâneo, deve-se sobretudo ao funcionamento mental de nossa cultura, de nosso tempo, onde a criança só conta consigo mesma face ao terror que representa o encontro com o outro, um verdadeiro estranho. O mundo de hoje é individualista e sem semelhantes. Daí surgir um questionamento: será que o mundo que projetamos para o futuro não é exatamente o mundo autista de singularidade, sem objetos e sem relações? Mundo que existe um rosto sem expressão, sem afeto e congelado. Esta patologia vem nos mostrar que estamos em face do extremo, nos limites do humano.

Regina Fernandes
Psicanalista

07 junho, 2007

Palavras ao Vento



Existe um ditado popular bastante antigo que diz: “de médico e de louco todos nós temos um pouco”. E é a mais pura verdade. Não existe aquele que nunca recomendou um remedinho, diagnosticou os sintomas de um amigo ou parente, explicou a gravidade de uma doença como se fosse uma autoridade no assunto, isso sem falar na famigerada automedicação que traz ao ser humano um enorme risco de perder a vida.
No caso da loucura então tudo piora! Podemos dizer que existem dois tipos de loucura. Em primeiro lugar temos o “louco de carteirinha”, aquele no sentido mais duro da palavra quando nos referimos aos esquizofrênicos, paranóicos, toda essa gama de problemas mentais que enchem os manicômios e as salas de psiquiatria e que são sempre excluídos da sociedade. A imagem de uma pessoa louca é uma das mais fixadas no imaginário coletivo. É sempre de alguém descontrolado, agressivo. Infelizmente uma imagem totalmente estereotipada.
Em segundo lugar, temos o “louco beleza” que somos todos nós, pessoas “normais”, com seus desvios comportamentais tais como esquisitices, manias, fobias, neuroses, medos, etc, que andam por aí, quase tristes, quase felizes, com encantos e desencantos, buscando pela felicidade sonhada, andando por um caminho cheio de pedras, cheio de flores, fazendo da vida uma estranha festa, sabendo que nada é para sempre, com a única certeza de que se parar, se desistir, perde a magia.
Portanto somos assim todos iguais, cada um com sua loucura, simples seres humanos, sem asa, mas que voam através da alma rompendo as trevas, a solidão, a tristeza, sempre em busca do arco-íris, da luz, da esperança.

Regina Fernandes
Psicanalista

06 junho, 2007

Viva a Vó Lia da Folia!


Já chegando o entardecer,
Eis que grata surpresa.
Uma vida pequenina
Pedaços de um viver.
Parece que foi tirado o molde
De um velho retrato.
Contornos iguais,
Diferenças sutis.
Da infância, volta a festa,
Folguedos, felicidade!
Se finita é a existência,
Não importa.
De agora será medida,
Por sorrisos e abraços,
Palavras a balbuciar.
Instantes furtados àqueles que um dia,
Já distante, foram nossos.
Se pais agora, não liguem.
Deixem que este afeto,
Por tempo adormecido, renasça
Em sentimento maior.
Assim somos nós: os avós.
(autor desconhecido)

Reflexões sobre Don Juan e o "ficar com..."


















É imensa a dificuldade da minha geração em compreender a lógica dos novos tempos, pois para nós os termos ficar e sair são antagônicos, entretanto atualmente têm exatamente o mesmo significado. Ficar com, ou sair com, significam a mesma coisa. São termos usados para designar a atitude de se relacionar sexualmente, sem nenhum compromisso de continuidade.
Essa nova modalidade de se expressar me reporta ao personagem Don Juan, do filme Don Juan de Marco, com Marlon Brando e Jonny Depp, escrito e dirigido por Jeremy Leven. Don Juan é um personagem literário, paradigma do eterno sedutor, tido como símbolo da libertinagem. A figura de Don Juan além dos romances foi também cultuada na música, em obras de Strauss e Mozart, este último com a ópera Don Giovanni, composta em 1787. Aparece ainda na obra de Molière, em Le Festin de Pierre, no poema satírico de Byron chamado simplesmente Don Juan, no drama de Bernard Shaw, chamado Man and Superman.
Podemos dizer que Don Juan assinala um padrão de personalidade caracterizado por uma pessoa narcísica, inescrupulosa, enamorada, amada e odiada, para quem vale tudo na conquista de uma mulher. Foucault enfatiza essa questão ao dizer que Don Juan arrebenta com as duas grandes regras da civilização ocidental, a lei da aliança e a lei do desejo fiel.
E qual seria a ligação entre o filme e a conduta social nos tempos modernos?
Poderíamos dizer que a característica principal seria uma forte compulsão para a sedução que reflete uma estrutura social e um comportamento específico. Don Juan se apresenta com uma personalidade que necessita seduzir o tempo todo, que aparentemente se enamora da pessoa difícil, mas uma vez conquistada, a abandona. As pessoas com esse traço não conseguem ficar apegados a uma pessoa determinada, partindo logo em busca de novas conquistas. O “ficar com” caracteriza também um relacionamento compulsivo para a sedução, que não implica obrigatoriamente em nenhuma combinação ou contrato prévio, que é fugaz devido à provisoriedade da união. Não há compromisso de continuidade porque, ao menor sinal de interesse de um dos envolvidos no sentido de continuar, a relação se desfaz e é evitada. Nessa nova modalidade de relacionamento não há envolvimento amoroso, não há cobrança de compromisso.
A diferença marcante entre os dois comportamentos pode ser entendida pela palavra conquista. Com Don Juan vemos a figura do “príncipe encantado”, o homem sedutor que vem arrebatar sua amada com promessas de amor eterno. Ele tem habilidade em perceber rapidamente os gostos e franquezas de suas vítimas e, é igualmente rápido em atender as mais diversas expectativas. Já o “ficar com..." não implica numa verdadeira conquista, pois é apenas uma afinidade recíproca, um não conquista o outro porque ambos estão, decididamente, com o mesmo objetivo em mente. “Ficar com” implica em essência e caracteristicamente, na ausência de sentimentos mais profundos de ambas as partes.


Regina Fernandes
Psicanalista

10 maio, 2007

Domingo 13 de maio - Nossa Senhora de Fátima e Dia das Mães



















A história da criação do Dia das Mães começa nos Estados Unidos, em maio de 1905, em uma pequena cidade do Estado da Virgínia Ocidental. Foi lá que a filha de pastores Anna Jarvis e algumas amigas começaram um movimento para instituir um dia em que todas as crianças se lembrassem e homenageassem suas mães.
A idéia era fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais. Para Anna, a data tinha um significado mais especial: homenagear a própria mãe, Ann Marie Reeves Jarvis, falecida naquele mesmo ano. Ann Marie tinha almejado um feriado especial para honrar as mães.
Durante três anos seguidos, Anna lutou para que fosse criado o Dia das Mães. A primeira celebração oficial aconteceu somente em 26 de abril de 1910, quando o governador de Virgínia Ocidental, William E. Glasscock, incorporou o Dia das Mães ao calendário de datas comemorativas daquele estado. Rapidamente, outros estados norte-americanos aderiram à comemoração. Em 1914, a celebração foi unificada nos Estados Unidos, sendo comemorado sempre no segundo domingo de maio. Em pouco tempo, mais de 40 países adotaram a data.
O primeiro Dia das Mães brasileiro foi promovido pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre, no dia 12 de maio de 1918. Em 1932, o então presidente Getúlio Vargas oficializou o feriado.
Mas Anna não foi a primeira a sugerir a criação do Dia das Mães. Antes dela, em 1872, a escritora Julia Ward Howe chegou a organizar em Boston um encontro de mães dedicado à paz.


Retrato de Mãe
Uma simples mulher existe que,
pela imensidão de seu amor, tem um pouco de Deus
Pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo.
Que, sendo moça, pensa como uma anciã
Sendo velha, age com todas asforças da juventude.
Quando ignorante, melhor que qualquer sábio, desvenda os segredos da vida
E, quando sábia, assume asimplicidade das crianças.
Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama
Rica, empobrece-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos.
Forte, estremece ao choro de uma criancinha
Fraca, entretanto, se alteia com a bravura dos leões.
Viva, não lhe sabemos dar valor, porque à sua sombra todas as dores se apagam
Morta, tudo o que somos e tudo o que temos, daríamos para vê-la de novo, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios.
Não exijam de mim que diga o nome dessa mulher se não quiserem que ensope de lágrimas essa mensagem, porque eu a vi passar em meu caminho.
Quando crescerem vossos filhos, leiam para eles esta página
Eles vos cobrirão de beijos a fronte e vos dirão que um pobre viajante, em troca de suntuosa hospedagem recebida, aqui deixou para todos o retrato de sua própria MÃE...
(Dom Ramon Angel Jara)

06 maio, 2007

37 anos de Casamento! Parabéns!
















De tudo, ao meu amor serei atento antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto que mesmo em face do maior encanto dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento e em seu louvor hei de espalhar meu canto. E rir meu riso e derramar meu pranto, ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure quem sabe a morte, angústia de quem vive, quem sabe a solidão, fim de quem ama, eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.
(Vinicius de Morais)

04 maio, 2007

Amor


Não digas: "Amo-a pelo seu olhar,
o seu sorriso,
ou modo de falar
honesto e brando.
Amo-a porque
se sente minh'alma em
comunhão constantemente
com a sua".
Porque pode mudar isso tudo,
em si mesmo,
ao perpassar do tempo,
ou para ti unicamente.
Nem me ames
pelo pranto
que a bondade
de tuas mãos enxuga,
pois se em mim secar,
por teu conforto
esta vontade de chorar,
teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor,
E assim me hás de querer
por toda a eternidade.
(Madre Teresa de Calcutá)