25 fevereiro, 2009

O Vazio
















Conheci Isabel no ginásio. Ela sentava na primeira carteira da frente e ali ficava, franzina, tímida, branca, distante das colegas, dos professores, distante do mundo. Falava pouco, quase nunca sorria e parecia que sofria de todas as dores do mundo. Estava sempre se sentindo mal, sempre agasalhada, e qualquer sintoma novo que alguém falasse ela logo sentia também. Tinha uma enorme capacidade de transformar uma doença num mal fatal ou uma dificuldade num completo fracasso.
Aos 18 anos Isabel já havia tido mais desilusões amorosas do que muitas mulheres maduras e vividas. Ela tinha um “ar de solteirona”, mesmo na idade em que todas nós eramos maravilhosamente solteiras. Sempre que ela conhecia um rapaz divertido e que se interessava por ela logo dizia: - não vai dar certo.
Ontem fazendo compras no shopping encontrei Isabel. Magra, alta, branca e agasalhada. Contou o suficiente para que eu percebesse que segue pela vida sofrendo, numa sucessão de perdas, sozinha, sem amigos, do trabalho pra casa e mais nada.
Não sei se Isabel acredita em destino, mas não foi o destino. Foi programado por ela, foram suas escolhas, sua postura perante a vida. Isabel sentia todas as dores do mundo e nunca teve ajuda ou nunca procurou por ajuda.
Nos despedimos. Dei a ela meu telefone, email e pedi que me procurasse para sairmos juntas, mas senti que minhas palavras caíram no vazio. O mesmo vazio dos tempos de ginásio. E ela seguiu como se fosse um zumbi, aérea, distante, no mundo que construiu para viver.


Regina Fernandes

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Rege
Que bom ter seus escritos de volta.
bj

Anônimo disse...

Será que Isabel não era feliz assim, consigo mesma?
Ela ocupava todo seu espaço, daí não permitir visitas...

lindo dia flor querida
beijos

Unknown disse...

é bom ler vc...

Anônimo disse...

Belo texto.
Bj