07 janeiro, 2009

A Verdade
















A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com o mesmo perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua utopia.


(Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

Madalena Felinto disse...

Amei seu blog!! Abraços!!

Unknown disse...

meu pai sempre tinha essa pergunta para nós:
"Onde está a verdade?"

era uma maneira de nos incentivar a pensar.

lembrei de nossas conversas ao ler este poema.

beijos
Ju