13 setembro, 2007

Família: conceitos e valores


Apesar de ainda hoje suscitar muitas polêmicas, pois para uns a família é a célula sagrada da sociedade e para outros uma instituição que deve ser combatida, ainda é na família que vamos encontrar a mediação entre o indivíduo e a sociedade, e a característica de ser a formadora de nossa primeira identidade social. Ultimamente a instituição familiar tem sido o centro de atenções de estudiosos de todas as ciências sociais e suas abordagens têm sido quase sempre dirigidas para a família como sendo algo natural e imutável. Assim como Talcott Parsons que dá à família uma relevada importância e caracteriza sua função na sociedade capitalista, exemplificando a família nuclear burguesa do século XIX como modelo, Freud, apesar de suas novas descobertas sobre a função repressiva da família, também nos mostra a família burguesa como uma instituição familiar universal.
A discussão sobre as relações entre família e sociedade teve seu primeiro passo com os trabalhos de L. Morgan, a seguir, Engels, apoiando-se nas descobertas de Morgan, desenvolve a teoria de que foi na família que se iniciou o processo de divisão social do trabalho. Segundo ele, a família monogâmica surge a partir do aparecimento da propriedade privada, e uma de suas principais características seria a de garantir a transmissão da herança a filhos legítimos do homem.
Embora a família predominante em todos os seguimentos sociais seja a família monogâmica burguesa, existem padrões internos que diferenciam formas familiares diferentes dentro de uma mesma classe social, e um exemplo significativo é a classe média urbana, que apresenta grande riqueza na variação de padrões familiares.
Para que se possa entender o grupo familiar é preciso considerá-lo dentro de uma complexa trama social e histórica que o envolve. A partir daí podemos destacar as seguintes considerações: a família não é algo natural, biológico, mas sim uma instituição criada pelo homem; qualquer que seja sua forma constituiu-se em torno de uma necessidade material: a reprodução; além de sua função ligada à reprodução biológica, ela exerce também uma função ideológica – a família é formadora do cidadão; portanto, suas duas importantes funções são a econômica (produção de mão-de-obra) e a ideológica (reprodução da ideologia dominante).
A ideologia numa família é vinculada inicialmente pelos pais e pelos agentes de educação, que ensinam ver a família como algo natural e universal, e sendo assim imutável. Althusser considera a família um importante aparelho ideológico usado pelo Estado na manutenção da dominação política burguesa. Já Marcuse, nos seus estudos sobre as sociedades capitalistas mais avançadas, aponta para uma descentralização das funções da família. No entanto o que devemos destacar é a importância da atuação familiar que é vivida intensamente pelos indivíduos, agindo de maneira incisiva no exercício da subordinação ideológica, pois está presente desde o início da vida e é marcado por fortes componentes emocionais que estruturam de forma profunda a personalidade de seus membros.
As características do funcionamento interno da família são dela ser o locus da estruturação da vida psíquica e por constitui um espaço social distinto na medida em que gera e consubstancia hierarquias de idade e sexo – o funcionamento da família centra-se no binômio autoridade/amor. Apesar do modelo burguês familiar, ser o sinônimo de família atual, não podemos negar a existência de outras formas de vida familiar, muito menos impor esse padrão a todas a unidades familiares.
Atualmente novas questões vêm colocando em cheque os atuais padrões familiares, porém podemos constatar que continua a predominância da família nuclear burguesa, apesar de apresentar algumas modificações e adaptações. Uma das principais armas do conservadorismo na luta pela manutenção dos padrões tradicionais ainda é a educação desenvolvida segundo os moldes da família burguesa. A família contemporânea se parece, em muito, com a sua ancestral, várias características dos papéis de homem e mulher permaneceram os mesmos, porém atua no sentido do aprendizado diferenciado dos papéis sexuais ao tratar diferentemente filhos e filhas, a sensualidade continua ocupando papel destacado na família e ainda é vista com algo a ser controlado.
O que podemos perceber é que certas características fundamentais da família burguesa típica do século XIX continuam presentes nas famílias contemporâneas, mas essa presença se dá parcialmente, porque hoje são outras as condições históricas. Algumas mudanças já aconteceram, outras estão por acontecer, mas percebe-se ainda vigente a rígida hierarquia de sexo e idade, assim como a associação amor e autoridade.
Regina Fernandes

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